
O Poder É Das Redes, E Não É O Que Você Está Pensando
Recentemente, participei de uma reunião de briefing para um novo projeto de comunicação na Artplan e ouvi uma frase inquietante: “não há nada que equity faça que confronte o poder da network”. O contexto era uma discussão sobre criptomoedas e os impactos da tecnologia blockchain nas nossas vidas. O blockchain é uma rede de negócios segura, na qual os participantes transferem itens de valor (ativos), por meio de um ledger (livro-razão) comum distribuído, do qual cada participante possui uma cópia (um código criptografado). Esse é um sistema de transações que tem na essência a descentralização, ou o fim do poder central de algo. E exatamente por isso vem sendo chamado de “nova internet”, porque a rede não pertence a ninguém específico e o valor que é gerado, construído e distribuído vem única e exclusivamente da participação e das atividades realizadas pelas pessoas, nessa rede.
O que levei para mim desse dia foi bem mais do que o desafio de posicionamento para uma marca do novo ecossistema de criptoativos. O que me marcou foi a parte do poder da network, e é sobre isso que quero contar.
Desde 2014, tenho em sociedade com o meu marido Alexandre, um projeto de upcycling que transforma pipas de kitesurf que não servem mais para velejar, em jaquetas. A ideia nasceu de duas constatações em sua vivência como velejador. A primeira, que a gente tem dificuldade de se desapegar de itens que tem importância emocional nas nossas vidas, mesmo que tenham perdido sua função. E é por isso que todo velejador sempre tem uma ou duas pipas que já foram aposentadas, guardadas no fundo do armário. E a segunda, que a conta desse hábito não fecha, já que cada kite tem em média uma vida útil de 300 horas de velejo e o material do qual são feitos, o nylon, leva 300 anos para se decompor na natureza. Assim, criamos o projeto Kitecoat, um serviço no qual o velejador entregava sua pipa e a gente a transformava em uma jaqueta, o que garantia um novo uso para o material (um casaco) e como guardava o design original da pipa – cores e estampas – também uma lembrança. Logo, além de velejadores, vieram também as escolas e guarderias de kite, que pela quantidade de equipamentos que normalmente mantém em uso, trouxeram mais volume para as doações. Com isso criamos o segundo modelo de negócio da Kitecoat: para cada duas pipas doadas, o velejador ficava com uma jaqueta, sem custo, e a escola ou guarderia que recebia de volta várias jaquetas, podia vende-las para seus alunos e frequentadores, reunindo recursos para a compra de novos kites. Com muito mais pipas no projeto e portanto muito mais nylon disponível, passamos a produzir peças para serem vendidas individualmente, dando origem ao terceiro modelo de negócio: uma marca de moda. Qualquer um que se interesse por uma jaqueta corta-vento que é única, já que nenhuma é igual à outra, pode comprar sua Kitecoat no instagram da marca ou em várias lojas e plataformas e-commerce que comercializam produtos de design sustentável.
A Kitecoat não é um projeto de tecnologia blockchain mas se inspira na descentralização. O que para mim a conecta com o poder da network e a frase que trago comigo há algumas semanas. Afinal, velejadores, escolas de kite, consumidores interessados em moda sustentável, eu e o Ale, nos beneficiamos pela circulação de um produto que não se monetiza a partir de sua matéria prima, mas pelas intenções distribuídas e compartilhadas por toda essa rede.
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