
Mais Inspiração Por Favor
Ok, já percebemos (ou já devíamos ter percebido) que o mundo parou temporariamente e que essa pausa nos deu a oportunidade para, também nós, pararmos e refletirmos sobre o que temos andado aqui a fazer. Mas será que o fizemos mesmo?
A história mostra-nos que após uma crise de medo (seja guerra, peste, entre outros) os comportamentos mudam… pelo menos durante algum tempo. E depois a vida segue e vai retomando a sua normalidade, mesmo que pelo meio leve uns quantos ajustes. Há pouco tempo participava numa conversa com uma investigadora portuguesa, professora catedrática de psicologia, que usava o exemplo da SIDA para mostrar isto mesmo. Durante o período que se seguiu, muitos foram os que pensaram que as relações sexuais nunca mais seriam as mesmas, alguns consideraram-nas mesmo impossíveis. E eis que o preservativo – que até então havia caído em desuso, muito por conta da descoberta da pílula anticoncecional – regressa para ajudar a mudar mentalidades.
Tal como nessa altura, acredito que também agora certas coisas irão mudar. Pelo menos durante uns pares de anos, até outras gerações ganharem corpo e voz. Mas tal como nessa altura - e em tantas outras da história da Humanidade -, a mudança que precisamos é mais profunda e não apenas ao nível daquilo que nos foi sendo imposto, como as máscaras (que certamente muitos passarão a usar sempre que se constipem).
Tenho assistido a alguns episódios quotidianos que tentam abalar a minha fé na Humanidade. Desanimem-se os protagonistas dessas cenas mais infelizes (sim, o senhor da história do pombo no Rossio está lá pelo meio) porque ainda não foi desta. Porém, foi o suficiente para me deixar a pensar que por vezes, assim de quando em vez, o ser humano se assemelha àquele animal que usa duas palas nos olhos para apenas ver em frente e não se distrair com a visão periférica. E não, estas palas não nos foram impostas pelas autoridades de saúde meus senhores. Já as usávamos muito antes do vírus chegar. Quer-me, até, parecer que a pandemia tentou arrancar essas palas, de forma dura, crua e cruel é certo, para evitar que se tornassem tão densas ao ponto de entrarmos numa espécie de efeito “blackout”, ao nível dos melhores estores do mercado. Então, a pergunta que agora se impõe é: teremos vivido tanto tempo com elas que ficámos parcialmente cegos? Ou, à luz da pandemia, precisamos apenas de um tempo para nos adaptarmos a esta estranha e nova luminosidade? E se a escolha recair sobre esta última (#ihope), quanto tempo é esse tempo afinal?
A boa notícia terráqueos (a propósito, roubei este termo a um astrólogo brasileiro, mas quem diz a verdade não merece castigo), é que nem tudo está perdido. Estamos a tempo da mudança, no momento certo da transformação. Mas para isso, não podemos continuar a fazer aquilo que (quase) sempre fazemos - em bom português chama-se “empurrar com a barriga”. Nem tão pouco podemos deixar para o “mundo pós covid” resolver. Se de facto queremos seguir em direção a um mundo melhor, porque não engatarmos a 1ª agora e irmos em frente? O que é que nos falta? Não serão as palas que nos atrapalham, porque essas já nos foram arrancadas. Também não será por falta de tempo, já que fomos reensinados a geri-lo melhor. E nem a falta de clichés nos pode demover, já que estamos carecas de ouvir que “se queres prever o futuro, estuda o passado” e que “o futuro é agora”.
Então, talvez o que nos falte seja um pouco mais de inspiração. Daquela que nos chega quando saltamos do sofá e arregaçamos as mangas. Quando partilhamos, ouvimos e criamos. Não que precisemos todos de virar Musks, Gates ou Hawkings. Mas para podermos continuar a ser o Rodrigues, o Pereira ou o Silva e através das nossas próprias escolhas e superações inspirarmos outros a fazerem as suas. Que, por sua vez, inspirarão outros e, esses outros, uns outros tantos. E assim o mundo continuar a girar, mas desta vez (finalmente) melhor.
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