
Slow Living, Muito Mais Que Devagar
A velocidade e a descartabilidade são o impulso da era moderna.
Uma existência fugaz e frenética, vivida na miragem da produtividade, incessantemente devorada pela cultura da redundância e da urgência, onde mais é sempre mais.
O Slow Movement surgiu de forma antagónica a esta cultura contemporânea do excesso, do caos e do consumismo, onde grande parte de nós se tornou escravo de uma ilusão… ou duas.
Em 1986, com um protesto de Carlo Petrini contra a abertura de um restaurante de fast food na Piazza di Spagna, em Roma, nasceu o movimento Slow Food.
Pouco a pouco, esta visão foi-se infiltrando em outras esferas, transformando-se numa subcultura, uma resposta complexa às mecânicas indomáveis de massificação de tendências.
Assim, foi trazendo à tona interrogações e debates sobre o pós-materialismo e os novos valores sociais, encerrando em si uma abrangência que ultrapassou em muito o simples significado da palavra. É tão mais que “devagar”.
Slow é a dimensão esquecida do tempo.
Contrariamente ao tempo cronológico, este não é linear, é o tempo do aqui e do agora, o tempo da vida, onde valores mais altos se levantam. O tempo em que decidimos o futuro. Todos nós “negociamos” tempos e espaços diferentes, o que torna a nossa ética de vida uma responsabilidade inadiável.
O Slow Living é muito mais que a apologia do desacelerar, é um código de ética, com princípios de decisão e actuação inabaláveis. É maior que o “ego colado à pele”. Mais que aquilo que nos para, é aquilo que nos move. É espaço para criar e para falhar.
É o acrónimo dos grandes desafios contemporâneos, com o centro gravitacional no impacto. A marca que deixamos no mundo.
S | Sustentável – Sermos mais conscientes de que não somos assim tão “pequenos”, de que todas as nossas escolhas têm impactos sistémicos, nunca perdendo de vista que sustentabilidade é uma articulação dinâmica entre várias esferas distintas – humana, social, ambiental, cultural, económica e governance – e não uma apenas (triste, solitária e facciosa). A interdependência entre todas as coisas. Todos fazemos parte do problema, mas também da solução.
L | Local – Sermos mais activos na nossa área de influência directa. Seja no consumo, seja na vivência. A nossa influência no mundo começa na proximidade. Caso contrário, passa apenas pelo êxtase do viés confirmatório de um culto autocentrado.
O | Orgânico – Sermos mais verdadeiros, empáticos e inclusivos, mas sem cair no buraco negro que são as tão disputadas “Olimpíadas da Superioridade Moral”. Decisões menos “plásticas”, artificias, degradantes e tóxicas. A superação das tendências esmagadoras. Uma maior responsabilidade na orientação do pensamento e da acção.
W| Whole (Inteiro) – No consumo, na sociedade e na identidade. Ser versus ter ou parecer. Lutar pelo direito de nos sentirmos bem na nossa pele. Lutar pela integração da diferença. Menos barreiras invisíveis, fracturas sociais, máscaras de sobrevivência, malabarismos ilusórios e washings sem carácter. Ser, sem filtros e sem medos.
Um resgate de sabedoria que recria os princípios da diversidade, da cooperação e da simplicidade (mas sem simplismos). O poder das escolhas. Uma revolução hierárquica nas prioridades e nas motivações.
Que não sejamos prisioneiros da alienação do dia-a-dia, da pressão disfuncional dos meios, da formatação que transformou pessoas em consumidores e convergência em competição canibalizante, numa selva de cada um por si.
O Slow une a ética e a satisfação, o local e o global, a experiência do passado e a inovação do futuro, como parte de um novo paradigma na cultura, na economia, na política e na vida.
É um reenquadramento contínuo da forma com construímos a realidade. Não é uma solução milagrosa. Não é um desafio de sete dias. Não é uma corrida com linha de chegada.
É, acima de tudo, uma mudança de perspectiva, uma visão mais estratégica sobre a vida. Novos caminhos e novas descobertas. Cada coisa a seu tempo. Cada um a seu passo. O viver de um, que acolhe o todo.
E isso significa viver mais “devagar”? Provavelmente, sim!
Slow Living é assim, simples, imperfeito, intencional e evolutivo. A arte de (re)definir prioridades. A arte de (re)desenhar o futuro.
Vamos a isso?
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